quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

(do Diário de Felgueiras), com a devida vénia a José Carlos Pereira

A morte chegou ao mundo das Letras neste Natal. Harold Pinter, prémio Nobel da Literatura em 2005, e considerado um dos expoentes máximos da dramaturgia inglesa, sucumbiu, hoje, após prolongada luta contra um cancro no esófago. Aquando da sessão solene da entrega do prémio, o discurso do escritor foi interrompido por sucessivas "falhas de som"(!)
Filho de um alfaiate judeu, Pinter era conhecido como defensor dos direitos humanos. Como tal, opôs-se à guerra do Iraque, que o levou a criticar duramente o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o presidente americano, George W.Bush, no discurso de aceitação do Nobel.
Nos anos 80, Harold Pinter fez parte de uma delegação representativa da Nicarágua, à altura do então governo sandinista, nas negociações com os EUA, então governados por Ronald Reagan, que ameaçava invadir aquele país e patrocinava os “Contra” através de um esquema de financiamento que passava pela venda de armas ao Irão cujo dinheiro era revertido para os guerrilheiros anti-sandinistas, num escândalo que ficou conhecido por “Irão-Contras” Nesse importante discurso, Harold Pinter testemunha uma conversa entre um padre da Nicarágua e o diploma norte-americano. O relato do sacerdote é arrepiante: “Dirijo uma paróquia no norte da Nicarágua. Os meus paroquianos construíram uma escola, um centro de saúde, um centro cultural. Vivíamos em paz. Há alguns meses uma força dos Contra atacou a paróquia. Destruíram tudo: a escola, o centro de saúde, o centro cultural. Violaram as enfermeiras e as professoras, assassinaram os médicos, da forma mais brutal. Comportaram-se como selvagens. Por favor, peça que o governo dos EUA retire o seu apoio a esta revoltante actividade terrorista”.
Perceba-se bem que Harold Pinter, no seu notável humanismo, não defendia regimes; defendia os direitos humanos! A melhor homenagem que lhe podemos fazer é saborear o discurso de aceitação do prémio Nobel, em 2005. Um texto histórico, sem dúvida. Embora longo, não cansa lê-lo. Deve ser lido, aliás. Não o percam

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