"O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça de búfalo, de veado, de rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente como o actor.
O actor acende os pés e as mãos. Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados. Bocado estrela. Bocado janela para fora. Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado. O que rutila, o que arde destacadamente na noite, é o actor, com uma voz pura, monotonamente batida pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca e retira o adjectivo da coisa, a subtileza da forma e precipita a verdade.
De um lado extrai a maça com sua divagação de maça.
Fabrica peixes mergulhados na própria labareda de peixes.
Porque o actor está como a maça. O actor é um peixe.
Sorri assim o actor contra a face de Deus. Ornamenta Deus com simplicidades silvestres. O actor que subtrai Deus de Deus, e dá velocidade aos lugares aéreos. Porque o actor é uma astronave que atravessa a distância de Deus.
Embrulha, desvela.
O actor diz uma palavra inaudível. Reduz a humanidade e o calor da terra à confusão dessa palavra. Recita o livro. Amplifica o livro. O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia. O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor. Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificou de um substantivo. E o substantivo retorna e gira, e o actor é um adjectivo. É um nome que provém ultimamente do nome. Nome que se murmura em si, e agita, e elouquece.
O actor é o grande nome cheio de holofotes. O nome que cega. Que sangra. Que é o sangue. Assim o actor levanta o corpo, enche o corpo com melodia, corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor, como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação. O actor transforma a própria acção da transformação.
Solidifica-se. Gasifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto, faz crescer o acto. O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base, com as suas tantas janelas, as ruas.
O actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor, como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela, acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento de onde brota a pantomima.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama, vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça."
Herberto Hélder
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segunda-feira, 13 de abril de 2009
domingo, 12 de abril de 2009
Personagens
As personagens de Pinter exprimem exactamente aquilo que lhes vem à mente e muitas vezes emerge directamente do inconsciente. Pode acontecer que isso nada tenha a ver com a acção ou com o que acaba de dizer a outra personagem. Para dizer a verdade, não há diálogo.As personagens de Pinter só se revelam aos poucos e de uma maneira incompleta: esse é o trabalho do actor.
Mervyn Jones
"As suas palavras não dizem o que dizem, dizem mais. O enigma é muito interessante porque está bem perto da verdade da vida."
Claude Régy àcerca de Harold Pinter
"O teatro de Harold Pinter revela um universo singular, cómico e aterrador, feito de sub-entendidos, mal-entendidos ou puros equívocos. Nele observa-se, como se fosse ao microscópio, personagens que vegetam confusamente, de quem quase nada se sabe e que, de repente, explode num confronto em que as palavras são armas mortais. Estamos no reino do falso para se atingir uma verdade que é ainda mais falsa. As perguntas que se colocam não são aquelas que nos vêm à cabeça e a resposta, ou a recusa de responder limita-se a aumentar o abismo da incompreensão. O pudor torna-se violência, o sorriso ameaça, o desejo impotência, a vitória desfaz-se."
Eric Kahane
Mervyn Jones
"As suas palavras não dizem o que dizem, dizem mais. O enigma é muito interessante porque está bem perto da verdade da vida."
Claude Régy àcerca de Harold Pinter
"O teatro de Harold Pinter revela um universo singular, cómico e aterrador, feito de sub-entendidos, mal-entendidos ou puros equívocos. Nele observa-se, como se fosse ao microscópio, personagens que vegetam confusamente, de quem quase nada se sabe e que, de repente, explode num confronto em que as palavras são armas mortais. Estamos no reino do falso para se atingir uma verdade que é ainda mais falsa. As perguntas que se colocam não são aquelas que nos vêm à cabeça e a resposta, ou a recusa de responder limita-se a aumentar o abismo da incompreensão. O pudor torna-se violência, o sorriso ameaça, o desejo impotência, a vitória desfaz-se."
Eric Kahane
Diálogos de pausas, Teatro de Silêncios
Pinter é daqueles autores com textos de tal dimensão que só nos resta nos colocarmos ao serviço daquelas palavras.
Comecei por propor à actriz Sofia Gonçalves, depois da gratificante experiência que foi “Os 5 Sentidos” e o período de 4 meses que se lhe seguiu, um curso de Expressão Dramática, mas que não seria um curso de Expressão Dramática qualquer, devia ser algo contendo uma força motriz especial. A ideia de lançamento de um curso de Teatro de Autor para poucos meses foi pois da Sofia Gonçalves. E foi a Sofia mais longe: propôs-me o nobelizado falecido na véspera de Natal.
Um Curso de Teatro de Autor, versando Harold Pinter (1930-2008)
Tarefa pesada, responsabilidade obrigatória, aceitei, recuei. Voltei a ligar-lhe para o arranque. Novos recuos. Novas aceitações. Uma planificação, e depois outra. Cada dia que passava em Janeiro, depois Fevereiro, os textos de silêncio parecia que pediam para ser representados.
Até 16 de Março, o grande dia de arranque desta jornada.
Este teatro que entrega ao Actor o decurso da situação, que o sugere na tensão de diálogos de pausas, declarações, e sempre : silêncios; já trouxe fascinantes e mágicos momentos, protagonizados pela dezena de alunos na sala 102 do Centro de Formação da Casa do Artista.
Domingo de Páscoa em família, em Alfragide.
Comecei por propor à actriz Sofia Gonçalves, depois da gratificante experiência que foi “Os 5 Sentidos” e o período de 4 meses que se lhe seguiu, um curso de Expressão Dramática, mas que não seria um curso de Expressão Dramática qualquer, devia ser algo contendo uma força motriz especial. A ideia de lançamento de um curso de Teatro de Autor para poucos meses foi pois da Sofia Gonçalves. E foi a Sofia mais longe: propôs-me o nobelizado falecido na véspera de Natal.
Um Curso de Teatro de Autor, versando Harold Pinter (1930-2008)
Tarefa pesada, responsabilidade obrigatória, aceitei, recuei. Voltei a ligar-lhe para o arranque. Novos recuos. Novas aceitações. Uma planificação, e depois outra. Cada dia que passava em Janeiro, depois Fevereiro, os textos de silêncio parecia que pediam para ser representados.
Até 16 de Março, o grande dia de arranque desta jornada.
Este teatro que entrega ao Actor o decurso da situação, que o sugere na tensão de diálogos de pausas, declarações, e sempre : silêncios; já trouxe fascinantes e mágicos momentos, protagonizados pela dezena de alunos na sala 102 do Centro de Formação da Casa do Artista.
Domingo de Páscoa em família, em Alfragide.
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